O
PINTOR
Havia uma vez um pintor na antiga China que era um grande mestre na sua arte. Pintava com grossas tintas com tanto cuidado, com tanta dedicação que os seus quadros pareciam ter vida.
Quando pintou um
cavalo, as pessoas colocaram uma cerca em volta do quadro com medo do cavalo
fugir.
Quando pintou uma janela com delicadas cortinas o vento soprava devagar tentando balançar aquele tecido tão fino. Fez um quadro com rosas e as abelhas voavam a sua volta tentando colher o pólen daquelas flores. Alguns sentiam o delicado perfume da roseira.
Tudo que ele pintava
causava esse espanto e admiração por parecer tão real.
Um dia o pintor estava
em casa e chegaram os soldados do imperador. O pintor não sabia o que eles
queriam e os soldados mostraram uma ordem de prisão. O mestre pintor não
mostrou resistência e foi levado até o castelo de sua majestade. Chegou lá e
foi colocado na frente do imperador que parecia furioso. O monarca gritava:
- A culpa é sua!
O pintor não entendeu
nada e o imperador continuou com sua raiva:
- Meu filho cresceu
nesse palácio cercado por suas pinturas. Tudo de grande e rara beleza. Mas
quando ele saiu para ver o mundo encontrou feiúra e desencanto. Ficou tão
desesperado que caiu doente. A culpa é sua por ter enganado meu filho. Por isso
será condenado a morte.O pintor tentou dizer que ele não tinha culpa. Que só
pintava o que via e sempre procurou a beleza. Mas o monarca estava irredutível.
O pintor vendo que não sairia daquela situação com facilidade, teve uma ideia e
pediu ao imperador:
- Aceito o seu castigo,
majestade, pela falta terrível que causei. Mas faço um pedido final: gostaria
de pintar meu último quadro. O senhor, meu imperador, permite?
O monarca ficou curioso
em ver a última obra daquele mestre pintor e permitiu. Ele faria sua última
pintura depois morreria. Os soldados pegaram telas, tintas e pincéis na casa do
pintor e colocaram tudo num quarto onde o mestre das tintas ficou prisioneiro.
O mestre pegou uma grande tela e colocou no cavalete. Com cuidado e delicadeza
foi misturando tintas azuis e pintou um grande céu estrelado. A lua brilhava
com força boiando naquele céu iluminado. Depois começou a pintar um mar calmo.
Os pincéis e as tintas foram se agitando e o mar foi ficando revolto com ondas
grandes. O pintor trabalhava sem cessar naquele mar que ia crescendo na tela.
As ondas subiam e desciam. O vento soprava. Tanto soprava que as cortinas do
quarto do pintor começaram a balançar com força. A tinta azul foi sendo
derramada no quadro e começou a transbordar aquela água salgada. E o quarto foi
se enchendo de água que correu pelos corredores do castelo e encheu a sala do
trono. A água foi se espalhando pelo reino alagando tudo. Quando o imperador
viu aquilo mandou que os guardas destruíssem a pintura e matassem o pintor. Mas
o mestre das tintas foi mais rápido. Com um delicado pincel ele pintou um
bonito barco a vela. Subiu no barco e navegou até outro reino onde ele está até
hoje fazendo suas pinturas incríveis. O imperador não pode fazer mais nada.
E acabou a história.
Adaptação de Augusto
Pessôa

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